O uso indiscriminado de medicamentos é um dos principais problemas de saúde pública. Para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que mais de 50% de todos os medicamentos consumidos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada. Além disso, metade dos pacientes não utiliza os remédios corretamente¹.

A automedicação cresceu com a pandemia e tem preocupado ainda mais as autoridades sanitárias. Embora a medida possa ser vista como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas, usar medicamentos sem a orientação médica pode provocar danos à saúde e sérias consequências como intoxicação, reações alérgicas e até aumento da resistência bacteriana, que é a capacidade das bactérias de resistirem à ação dos antibióticos².

Ainda segundo a OMS, o uso incorreto e excessivo de antibióticos está contribuindo para a formação de bactérias cada vez mais fortes e letais. O órgão estima que em 2050 a resistência bacteriana será uma das principais causas de mortes, com a perda de 10 milhões de vidas em todo o mundo³.

“A medicina é muito dinâmica e antibióticos que eram prescritos há cinco anos hoje não são mais recomendados da mesma maneira. Isso porque as bactérias têm se tornado mais resistentes, sem falar que alguns desses medicamentos podem provocar graves problemas musculares e do sistema nervoso”, ressalta a ginecologista e obstetra do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Dra. Patrícia de Rossi.

Para a chefe do laboratório de pesquisa em infecção hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Ana Paula Assef, é preciso cada vez mais conscientizar a população e a sociedade médica sobre a otimização do uso de antibióticos, devido a esse aumento da capacidade de resistência das bactérias. “Essas medicações devem ser bem selecionadas para cada tipo de paciente, e utilizadas no momento e na dose adequada, de forma a minimizar seus impactos”, pondera⁴.

A automedicação gera ainda um outro hábito ruim: o de acumular remédios em casa. A prática pode causar problemas graves, entre os quais: confusão entre medicamentos, ingestão de remédios vencidos ou ineficácia por mau armazenamento. Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios.

Antes de tomar a decisão de utilizar um novo medicamento, converse com o seu médico. Informe, sempre, todos os remédios e substâncias que está utilizando, sejam eles sintéticos, fitoterápicos ou chás, por mais simples que possam parecer. Suplementos aparentemente inofensivos, como ginkgo biloba, óleo de salmão e açafrão, assim como a vitamina E, podem aumentar sangramentos e prejudicar a evolução de um pós-cirúrgico, porque inibem a agregação das plaquetas, provocando a formação de coágulos⁵. Por isso, todo cuidado é pouco!